A sobrecarga materna e a carga mental na luta pelos direitos das mulheres. Conciliar trabalho e filhos pode ser um malabarismo sem fim, especialmente para mães e famílias com crianças de 0 a 12 anos.
O coeficiente chave para a resolução dessa equação se chama rede de apoio – seja ela paga ou não. A resposta parece simples, não é mesmo? Mas fechar essa conta não é tão fácil quanto parece e, invariavelmente, o resultado é uma sobrecarga materna.
Nem todas as famílias podem contar com a possibilidade de uma rede de apoio paga e, muitas vezes, também não têm a quem pedir ajuda. A “solução” é tentar equilibrar as funções de mãe, profissional e dona de casa. Nesse malabarismo sem fim, muitos pratos vão caindo e a exaustão chegando. As mulheres que tentam fazer essa conta fechar adoecem.
Socialmente, seguimos insistindo no modelo de cuidado em que a mulher é a peça central. Mesmo que a gente tenha avançado nesse sentido e até mesmo nas famílias em que há uma boa divisão de tarefas, ainda recai sobre a mulher uma parte considerável das demandas.
Na maternidade, durante um período, haverá necessidades físicas e emocionais que só a mãe conseguirá suprir. Nessa fase, em um dado momento, o trabalho entra em cena. É hora dessa mulher voltar a produzir riqueza. Então, ela se divide entre cuidar da cria – da forma que estiver ao seu alcance – e dar conta do trabalho. Seja no ambiente corporativo ou nas modalidades home office, essa mulher é cobrada como se não tivesse filhos. E, no final do dia, ao retornar para casa – ou apenas mudar de cômodo – elas ainda encaram o terceiro turno: as demandas da casa.
Dividir as tarefas com os homens ainda não tirou dos ombros das mulheres aquilo que vem antes de colocar a mão na massa: o planejamento. É a lista do supermercado, a marcação da consulta, a reunião da escola, o remédio que acabou, o presente do amiguinho, a fralda que acabou, o sapato que não serve mais, a lista segue infinita. Enquanto ele lava a louça, a carga mental te lembra: o detergente está acabando.
Esse cenário fica ainda mais tumultuado, exaustivo e injusto quando falamos de mães solo, que são as únicas responsáveis por seus filhos, em todos os sentidos.
Está claro que já passou da hora de mudar a forma como as mulheres encaram o trabalho e como ele as encara, como as políticas públicas consideram as mulheres e como os homens as veem. A luta por direitos em uma sociedade profundamente desigual não pode esmorecer. E as mulheres precisam entender que continuar tentando dar conta de algo que não é justo, só irá preservar essa injustiça.
Rede de apoio: um respiro
Ter com quem contar é um alívio não apenas prático como também mental. Saber que seu filho está em segurança e sendo feliz, mesmo sem a sua presença, traz conforto e abre espaços para uma existência individual.
“O que o crocodilo diz no parque”, de Eva Montanari, narra um dia de passeio com os avós. Mesmo longe da mãe, o pequeno é cercado de afeto e cuidado, que dão solo seguro para que ele viva suas experiências e descobertas, como avistar o passarinho que voa e dividir um brinquedo.
O livro, que faz parte da coleção Literatura de Colo, é recheado de onomatopeias, que possibilitam, a cada virar de página, uma imersão no universo da brincadeira.