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Crianças e o consumo de açúcar: por que essa é uma relação complexa?

Para responder essa pergunta primeiro precisamos entender que comer – seja qual for o alimento – é um comportamento aprendido. Dito isso, já podemos ter uma pista do que vem a seguir, não é mesmo?

Se comer é um ato aprendido, não seriam os intermediários dessa aprendizagem os responsáveis por tornar a relação entre a criança e o açúcar tão complexa?

Antes que você responda, é válido dizer que a intenção dessa pergunta não é causar culpa em ninguém – muito menos nas mães, que já carregam um caminhão delas diariamente. A ideia é propor uma reflexão séria sobre o tema.

A orientação de não oferecer açúcar até os 2 anos de idade é recente. Muitos pediatras ainda são desatualizados em relação ao tema ao mesmo tempo em que pais e cuidadores foram forjados numa cultura em que o açúcar era liberado sem restrições, assim como era associado a afeto e barganha.

Romper com tudo isso não é simples, mas é possível. Por isso é fundamental entender o papel dos adultos na construção da relação das crianças com o açúcar.

Formação do paladar

A Sociedade Brasileira de Pediatria e o Ministério da Saúde preconizam que a criança não tenha contato com açúcar de nenhum tipo (refinado, cristal, mascavo, mel, melado, rapadura etc.) – e os doces que se originam dele – até completar 2 anos de idade. Essa orientação existe porque, nesse período, a criança está em formação do paladar e de seu hábito alimentar. A introdução do açúcar, que é docinho e gostoso, dificulta na aceitação de outros tipos de alimentos.

O impacto positivo em quem segue essa orientação é muito grande. Porém, também existe um lado negativo e ele está altamente ligado ao comportamento familiar: “a forma como a família vira essa chave pode ser ruim, de repente, a criança assopra a velinha de 2 anos e os doces são liberados de forma indiscriminada”, explica Larissa Mattar, nutricionista especialista em obesidade infantil e Diabetes tipo 1, no ambulatório de Endocrinologia e Diabetes do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICr – HCFMUSP).

Simplificando a relação

Larissa explica que a relação das crianças com o açúcar se torna complexa dependendo da forma como o alimento é oferecido. Por exemplo, uma criança muito exposta ao açúcar é ruim porque seu paladar vai ficar “viciado” e reverter isso não é simples, no entanto, uma criança muito privada também não é o ideal, pois isso pode gerar um comportamento compulsivo toda vez que ela tiver acesso ao doce. 

Parece clichê, mas a verdade é que simplificar a relação dos pequenos com o açúcar está no equilíbrio.

Inclusive, a ligação da obesidade infantil com o açúcar não está no seu consumo, mas na quantidade em que esse alimento é ingerido. “A criança tem uma recomendação diária de sacarose (açúcar). Hoje, o que percebemos é que os pequenos comem, às vezes, 3 ou 4 vezes mais do que essa recomendação. É esse consumo desequilibrado que leva ao excesso de peso e, consequentemente, a uma obesidade”, explica a nutricionista Larissa Mattar.

Portanto, esqueça a ideia de alimento proibido versus permitido. Os pequenos podem consumir alimentos com açúcar desde que exista um controle da quantidade e frequência da ingestão desses alimentos. Ou seja, não é ruim comer açúcar desde que isso seja feito com consciência e equilíbrio.

Meu filho é fissurado por doce. E agora?

Primeiro de tudo, respira. Você vai precisar de atenção e clareza para entender o que está por trás desse desejo incontrolável por açúcar. Segundo Larissa Mattar, essa fissura comumente decorre de duas situações:

  1. Famílias que privam muito a criança de comer alimentos com açúcar.
  2. Famílias que usam o doce como recompensa.

“Ao tornar os doces acessíveis às crianças, não os supervalorizando ou os associando a momentos especiais, os pais vão perceber que os filhos começarão a não pedir mais o doce todos os dias ou passarão a comê-los em menores quantidades”, explica Larissa. Por isso, para ajudar a manejar esse desejo incontrolável por doces, resultado das situações expostas, a nutricionista deixa algumas dicas:

– Pare de privar e/ou proibir o consumo de açúcar. Substitua essa atitude por um consumo consciente, com diálogo pacífico e sem pressão com a criança.

– Deixe de supervalorizar sobremesas e ofertar doces como recompensas. 

– Crianças que já estão fissuradas em açúcar precisam ter esse ciclo quebrado. Para isso, os alimentos açucarados devem ser reduzidos e substituídos por versões com trocas saudáveis.

– Negocie com a criança em que momento ela gostaria de comer o doce.

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