O transtorno de ansiedade é dos distúrbios psiquiátricos mais comuns na infância e merece atenção e busca por ajuda especializada
Conviver com um transtorno de ansiedade pode ser extremamente angustiante e incapacitante, principalmente durante a infância, período em que o cérebro ainda está em desenvolvimento e não possui a maturidade necessária para lidar com essas emoções. Segundo especialistas, os transtornos de ansiedade são os quadros psiquiátricos mais comuns na infância e adolescência, afetando de 10% a 15% da população, nessa faixa etária, acometendo, em especial, as meninas.
Para crianças e adultos, um certo grau de ansiedade é considerado normal e saudável, inclusive, pois a ansiedade tem um papel importante para nossa sobrevivência: é ela quem nos alerta para os perigos e nos faz agir diante deles.
Para os pequenos, é natural sentir ansiedade antes de uma viagem, uma festa de aniversário ou uma apresentação na escola, por exemplo. O problema surge quando a ansiedade se torna excessiva e desproporcional às situações vividas, interferindo no dia a dia da criança e causando sofrimento emocional. Nestes casos, a criança pode acabar fugindo ou evitando completamente a situação que causa ansiedade, custe o que custar. Por isso é fundamental identificar os sinais de ansiedade infantil e buscar ajuda profissional adequada para garantir a saúde emocional e o desenvolvimento saudável dos pequenos.
Existem vários tipos de transtornos de ansiedade em crianças e alguns dos mais comuns incluem:
Transtorno de ansiedade de separação: medo excessivo de ficar longe dos pais ou cuidadores, em idade divergente da fase do desenvolvimento (a ansiedade de separação é comum até, no máximo, 5 anos de idade).
Fobia específica: medo intenso e persistente de um objeto ou situação específicos, por exemplo, altura, espaços fechados, injeção etc. Pode surgir desde muito cedo.
Transtorno de ansiedade social: medo intenso de ser julgado ou criticado pelos outros, causando ansiedade desproporcional em situações de interação social cotidiana. É mais frequente na adolescência.
Transtorno de ansiedade generalizada: preocupação excessiva e constante sobre eventos cotidianos. Pode surgir em qualquer idade.
Reconhecendo os sintomas
Assim como adultos, os pequenos também podem manifestar sintomas físicos característicos das crises de ansiedade. Segundo o psicólogo Cristiano Lanza, além de preocupações excessivas, hiper vigilância e medos inadequados para a idade, que são indicativos de ansiedade, sintomas como taquicardia, sudorese, tremores nas mãos e nos pés, dores abdominais, vômitos e dificuldades respiratórias também podem surgir.
Quando isso acontece, o primeiro passo é buscar ajuda do pediatra de confiança, para descartar qualquer causa física. Feito isso, o passo seguinte é recorrer a um psicólogo para avaliação. “Durante as crises de ansiedade das crianças, o mais importante de tudo é não invalidar o que ela está sentindo”, enfatiza o psicólogo.
Com a ajuda do psicólogo Cristiano Lanza, listamos alguns sinais que podem caracterizar uma ansiedade patológica nas crianças, mas lembre-se: esses sintomas só serão um alerta vermelho caso estejam presentes de forma excessiva e que prejudique a funcionalidade dos pequenos.
Crianças de 2 a 5 anos
– Choro excessivo na hora da separação dos pais ou cuidadores
– Apego excessivo a um objeto ou brinquedo
– Recusa em ir à escola ou ficar com outras pessoas
– Medo excessivo de situações ou objetos comuns, como escuro, animais ou altura
– Insônia e pesadelos frequentes
Crianças de 6 a 12 anos
– Preocupação excessiva com o desempenho escolar ou atividades extracurriculares
– Medo excessivo de situações sociais, como falar em público ou interagir com outras crianças
– Irritabilidade e explosões emocionais frequentes
– Preocupação com a saúde, como medo de ficar doente ou de perder um ente querido
– Dificuldade em se concentrar nas tarefas e em relaxar
Adolescentes
– Preocupação excessiva com a imagem corporal e a aparência
– Preocupação com o futuro, como escolha da profissão ou ingresso na universidade
– Medo excessivo de situações sociais, como festas ou encontros com amigos
– Mudanças de humor frequentes, como irritabilidade, tristeza ou apatia
– Insônia e dificuldade para dormir
O que pode desencadear a ansiedade infantil?
Genética é uma das possibilidades. Filhos de pais com histórico de transtorno de ansiedade têm 3,5 vezes mais chance de desenvolver o mesmo transtorno, de acordo com especialistas. “Muitos adultos que têm ansiedade tiveram seu início ainda na infância e adolescência, mas esses problemas não foram investigados na época”, afirma o psicólogo Cristiano Lanza.
Apesar da herança genética ter um peso grande, outros fatores também podem ser a fonte do transtorno de ansiedade infantil, por exemplo:
Fatores ambientais: se a criança vive em um ambiente de alta pressão, com muitas cobranças e expectativas, pode ser mais propensa a desenvolver ansiedade.
Traumas: abuso físico e emocional ou outros traumas (acidentes de carro, por exemplo) podem desencadear o transtorno de ansiedade nos pequenos.
Mudanças significativas na vida: separação dos pais ou mudança de escola podem gerar sentimentos de ansiedade.
Excesso de estímulos: o uso excessivo de dispositivos eletrônicos e a exposição constante às redes sociais, pode aumentar a ansiedade em crianças.
Como ajudar os pequenos?
Existem duas formas principais de tratar transtornos de ansiedade em crianças: remédios e psicoterapia. Às vezes, só a psicoterapia é suficiente, mas, em casos mais graves, a combinação dos dois tratamentos é mais eficaz. No entanto, o psicólogo Cristiano Lanza é enfático: “a família precisa ter papel ativo no tratamento da criança”.
Segundo o psicólogo, o profissional que irá atender o pequeno conversará com os pais para entender o comportamento ansioso da criança e depois irá orientar como eles podem ajudar a criança a lidar com a ansiedade sem prejudicar sua vida. Os pais também podem ajudar criando uma rotina que traga segurança, mas que não seja muito rígida. “É importante incluir momentos de lazer na rotina e fazer isso em conjunto com a criança, se possível”, completa Lanza.
É fundamental tratar a ansiedade infantil o mais cedo possível para evitar que ela piore. “Imagine uma criança que passa a evitar situações por medo ou ansiedade. A vida dela, que está em pleno desenvolvimento, passa a ficar muito limitada e os riscos dessa criança desenvolver outros problemas de saúde mental, no futuro, como depressão, são muito maiores”, destaca o psicólogo.
Vale lembrar que os transtornos de ansiedade também podem afetar o desempenho escolar e a interação social, que são superimportantes nessa fase da vida. O psicólogo Cristiano Lanza, ainda destaca que, na adolescência, há risco aumentado para o uso de drogas e álcool para tentar aliviar os sintomas da ansiedade, o que pode ser perigoso e levar a problemas mais sérios.
Portanto, detectar e tratar precocemente transtornos de ansiedade infantil é fundamental para prevenir complicações, reduzir os sintomas e minimizar o impacto na vida da criança, além de influenciar positivamente para o seu desenvolvimento na idade adulta.
Nos pequenos, nem sempre é fácil obter um diagnóstico preciso, mas se houver propensão a muitos medos, ansiedade e preocupação, busque orientação o quanto antes.