Não há ser humano no mundo que não tenha ouvido ou proferido essa frase: “cada criança tem seu tempo”. Não importa se você é pai, mão, avô, avó, tio, tia, professor, médico, vizinho ou simplesmente palpiteiro. Essa frase já escapuliu ou foi ouvida por aí. E ela não é mentirosa, embora venha embutida de uma pequena armadilha.
É fato: toda criança tem seu tempo para andar, falar, começar a comer e se desenvolver. Somos seres únicos e, portanto, diferentes um dos outros. Por isso que fazer comparações entre seu filho e o da vizinha não é uma boa ideia. Pode ser que o pequeno ao lado já ande, enquanto o seu ensaia os primeiros passos, mesmo que possuam a mesmíssima idade. E isso acontece por diversos motivos que podem ir muito além dos estímulos que você oferece – aliás, por favor, largue o chicotinho e não pense que falta estímulo por aí, inclusive, estímulo demais atrapalha tanto quanto a falta.
Não caia na armadilha
Se toda criança, de fato, tem seu tempo, qual seria a armadilha perigosa dessa frase fofa? A resposta é simples: esperar demais.
Você não precisa se tornar um ás do desenvolvimento infantil, mas é importante conhecer os marcos de desenvolvimento pelos quais as crianças passam. Os marcos do desenvolvimento infantil são referências usadas para acompanhar o crescimento dos pequenos e dar parâmetros para a observação de que tudo está correndo conforme o esperado ou não.
O pulo do gato está justamente em saber observar seu filho a partir desses parâmetros – sem comparar com outras crianças – e o bom senso. Por exemplo, espera-se que o bebê sustente a cabeça entre 3 e 4 meses de idade. Se o seu filho sustentou a cabeça com 4 meses e 10 dias ele não está atrasado, ele está demonstrando que cada criança tem seu tempo. Porém, se ele está com mais de 5 meses e não sustenta a cabeça, então, é hora de buscar a orientação do pediatra.
O exemplo acima se refere a um marco de desenvolvimento motor, mas outras marcos também precisam ser conhecidos, como os cognitivos e de fala. Para acompanhar o desenvolvimento infantil, a carteira de vacinação fornecida pelo SUS é uma grande aliada. Ali estão contidas todas as informações que os pais precisam se atentar, além de contar com espaço para que possam registrar o que seu filho faz ou não. Outra opção são aplicativos de desenvolvimento infantil, pagos ou gratuitos, disponíveis para celular.
Para dar uma luz sobre os principais marcos, abaixo segue uma tabela que você pode se orientar, mas lembre-se: boa observação e bom senso são fundamentais. Caso perceba atrasos no desenvolvimento infantil de seus filhos, nos primeiros anos de vida, a recomendação é buscar ajuda médica para averiguar.
Idade | Socioemocional | Linguagem | Cognitivo | Motor |
0 a 6 meses | Sorri e dá risadas com cócegas | Balbucios e arrulhos | Vira a cabeça para acompanhar sons
Movimentos dos olhos coordenados |
Ergue a cabeça
Rola Assenta com apoio Procura por, agarra e leva a boca objetos |
6 a 9 meses | Entende ‘não’
Ri e dá gargalhadas por prazer |
Balbucia vogais e consoantes, como mama e papa. | Responde pelo seu nome
Aumenta o interesse por um determinado brinquedo |
Senta sem apoio
Fica de pé segurando as mãos de alguém Engatinha Manipula objetos com as mãos |
9 a 12 meses | Chora quando os pais saem
Imita sons e gestos Interesse por outras crianças |
Entende e pode falar mamãe ou papai
Acena para dar tchau |
Cutuca com o dedo
Responde a simples solicitações Aponta |
Levanta para ficar de pé
Caminha segurando nas coisas Movimento de pinça |
18 meses | Estranha desconhecidos
Faz “birras” Imaginação no brincar |
Fala algumas palavras
Fala e balança a cabeça para dizer não Aponta para mostrar coisas |
Aponta para partes do corpo
Faz rabiscos Segue orientações simples |
Caminha sem apoio, segura e bebe no copo
Come com colher |
2 anos | Brinca ao lado de outra criança
Mostrar mais independência |
Começa a formar frases
Repete palavras Aponta imagens de um livro |
Começa a nomear cores e formas
Empilha blocos Brinca de faz de conta |
Começa a correr
Fica na ponta dos pés Arremessa bolas |
3 anos | Brinca com outras crianças
Demonstra preocupação com amigos chorando |
Se comunica com frases maiores
Fala seu nome e idade Responde a perguntas simples |
Empilha blocos e faz torres
Brinca de faz de conta e usa mais a imaginação Abre portas |
Sobe e desce escadas
Corre com facilidade |
4 anos | Fala sobre gostos e interesses
Aguça a imaginação nas brincadeiras |
Fala grandes sentenças de frases
Conta histórias |
Sabe o nome das cores e números
Entende conceitos como igual e diferente Reconta histórias |
Pula de um pé só
Agarra bola Usa tesoura |
5 anos | Quer ser como os amigos
Distingue a realidade do faz de conta |
Fala com clareza grandes sentenças
Usa o tempo futuro Fala seu nome e endereço |
Conta até dez ou mais
Reproduz algumas letras e números |
Pula de um pé só por mais tempo
Nada e escala pequenas alturas |
Fonte: Instituto NeuroSaber
Atenção: prematuridade
No caso dos bebês prematuros, a contagem da idade é feita de forma diferente e isso impacta no seu olhar para os marcos do desenvolvimento. Para contar a idade dos bebês prematuros é preciso usar o conceito de idade corrigida e não o de idade cronológica.
A idade corrigida nada mais é do que a idade ajustada de acordo com o tempo que o bebê teria se tivesse nascido com as 40 semanas. Para calcular a idade corrigida, basta diminuir o número de semanas que o bebê nasceu da idade cronológica atual (sempre em semanas). Por exemplo, se o bebê tem três meses de idade cronológica (aproximadamente 12 semanas), mas nasceu com 30 semanas de gestação, sua idade corrigida é de 2 semanas.
Portanto, o bebê prematuro é “mais novo” do que sua idade real. Por isso, é possível que, aos três meses, por exemplo, ele ainda não consiga sustentar a cabecinha, porém, isso não significa que há algo errado. Lembre-se: a regra vale para os demais marcos de desenvolvimento e, normalmente, os pediatras utilizam esse parâmetro até a criança completar 2 anos de idade corrigida.
Pingback:Mitos e verdades sobre o desenvolvimento infantil – Blog da Jujuba | 16 de junho de 2023
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