A cada nova turma que nasce no espaço escolar, um novo grupo de WhatsApp surge. E, não podemos negar: como ferramenta de comunicação instantânea e em grupo, o aplicativo é extremamente eficiente, mas, se os participantes não estiverem em sintonia e não houver regras para seu bom uso, o que deveria ser solução pode se transformar facilmente em problemas.
Sem qualquer tipo de apego ao passado, uma observação se faz importante para entender alguns pontos em que a facilidade tecnológica mudou a forma de se comunicar e, não necessariamente, de forma positiva. Por exemplo, antes as famílias conversavam entre si nos eventos escolares, se conheciam e marcavam atividades juntas. Quando um estudante se ausentava, podia ligar para o outro perguntando sobre as atividades, mas, apesar de não ser muito burocrático, esse trâmite exigia um certo esforço e, até mesmo, laços afetivos.
Hoje, os pais tomam a dianteira dessa função e usam o grupo de WhatsApp para pedir as tarefas para os filhos que precisaram faltar à escola ou ainda para aqueles que deveriam ter anotado em suas agendas o que seria preciso fazer, mas não cumpriram com suas obrigações.
Outro ponto interessante de se observar é que o ambiente escolar sempre foi uma segunda comunidade, em que laços afetivos eram cultivados. E isso tem muita importância no desenvolvimento social das crianças, porém, a facilidade de mandar uma mensagem para todas as famílias da sala e a vida corrida comprometeu a formação de vínculo entre as famílias. Não é raro que a pessoa que pergunta algo no grupo não reconheça a feição de quem respondeu, afinal, é muito provável que nunca tenham trocado uma palavra pessoalmente.
Parece seguro, mas não é
O advento dos grupos de WhatsApp proporcionou que situações problema fossem discutidas com todos os pais com a facilidade de um clique. Mas esse é um terreno arenoso, pois, ao pedir opinião sobre como proceder, as famílias acabam expondo seus filhos e os educadores. E ainda pode ficar pior: algumas comentam sobre os relatos com seus filhos, que comentam com os colegas e a “rede de fofocas” se estabelece dentro e fora de sala de aula, prejudicando o ambiente escolar.
A jornalista Luciana Fuoco sabe exatamente o que é isso. Ano passado, no grupo de WhatsApp da sala de sua filha, uma mãe expôs seu descontentamento com uma professora e perguntou se os pontos que ela observou faziam sentido para outros pais. Ela conta que, o objetivo inicial, era alinharem o discurso para conversar com a direção, mas algo não saiu como o esperado. “Alguma mãe resolveu contar para a professora o que estava sendo falado sobre ela de forma bem nominal, apontando o nome dos pais que se queixavam e quem eram seus filhos. Foi horrível para todos. Sempre soube que a internet não era um ambiente seguro, mas esse episódio foi de uma imaturidade tão grande, que conseguiu me surpreender. Desse dia em diante, só troco informações institucionais da escola, não me sinto segura para fazer qualquer apontamento diferente”, conclui.
Segundo a professora Tatiana Tatit, a troca entre as famílias pode ser positiva no sentido de que é um espaço democrático para que todos possam se posicionar e ouvir diferentes opiniões. Mas a falta de uma mediação deste fórum de discussão pode fazer com que as famílias acabem se prendendo em narrativas únicas, sem considerar o ponto de vista da escola. “Além disso, é comum as pessoas se utilizarem destes fóruns como espaço de reclamação ou ainda de consideração de uma realidade individual como premissa de um todo”, completa.
Nem tudo é ruim nos grupos de WhatsApp
Quando bem organizado em relação ao seu uso, esses grupos podem ser ferramentas positivas na troca de vivências sobre a fase que os filhos vivem, além de sugestões culturais relacionadas à idade e ações coordenadas, como presentes coletivos para os professores.
Mas, para que isso seja possível, é importante que regras sejam criadas e cumpridas. Por exemplo, quais conteúdos devem ser compartilhados, melhores horários para enviar mensagens, além de não permitir comentários sobre estudantes, indicando as mensagens particulares para o assunto.
A tecnologia veio para ficar e, cada dia mais, estará inserida no cotidiano de adultos e crianças, portanto, o caminho não é demonizá-la, mas criar mecanismos para que seja aliada da vida escolar e do desenvolvimento socioemocional dos pequenos, além de facilitadora da rotina puxada dos pais, não o contrário.