Mediar essa relação, atualmente, não é tarefa simples, mas é possível encontrar um caminho saudável e responsável
A liberação das telas para os pequenos é um daqueles temas espinhosos e acalorados, em que temos defensores, acusadores e, no meio disso, pais completamente perdidos. Não é para menos, em um mundo cada vez mais tecnológico, em que os próprios adultos vivem com o celular na mão, não é simples encontrar a resposta para o que seria ideal em relação às crianças.
O assunto se torna ainda mais complexo quando deixamos de olhar o macro e contextos privilegiados e focamos no micro, em que, muitas vezes, encontramos famílias sem qualquer rede de apoio, onde as telas são o braço a mais que a mãe precisava.
Deixando de lado o 8 ou 80 e focando na ciência, o que encontramos é a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sobre exposição às telas e seus possíveis efeitos nocivos, de acordo com as idades e as etapas do desenvolvimento cerebral, mental, cognitivo e psicossocial das crianças e adolescentes.
No início de 2022, a instituição lançou o Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar de crianças e adolescentes em contato constante com tecnologias digitais. O documento, elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre Saúde na Era Digital da SBP, complementa e atualiza as recomendações lançadas pela entidade em 2016 sobre o tema.
Entre as principais orientações atualizadas pelo novo Manual de Orientação da SBP, estão:
- Evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente.
- Crianças entre 2 e 5 anos: limitar o tempo de telas ao máximo de uma hora por dia, sempre com supervisão.
- Crianças entre 6 e 10 anos: limitar o tempo de telas ao máximo duas horas por dia, sempre com supervisão.
- Adolescentes entre 11 e 18 anos: limitar o tempo de telas e jogos de videogames a até três horas por dia, sempre com supervisão e nunca “virar a noite” jogando ou vendo vídeos.
- Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar uma a duas horas antes de dormir.
- Criar regras saudáveis para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, além das regras de segurança, senhas e filtros apropriados para toda família, incluindo momentos de desconexão e mais convivência familiar.
Liberar ou não liberar, eis a questão
Essa é a resposta de milhões, que não temos. Cada família tem sua perspectiva e hábitos próprios, de acordo com seu estilo de vida, que devem ser respeitados e seguidos por familiares, educadores e cuidadores da criança. O uso das telas e da tecnologia pode ter efeitos positivos ou negativos, dependendo da forma como são utilizados.
Pensando nisso, a pergunta deveria ser outra: como posso fazer uso saudável da tecnologia? Essa é uma resposta mais fácil de ser alcançada, embora, para que seja colocada em prática exija esforço e dedicação.
Usar as telas de maneira saudável inclui não apenas seguir as regras relacionadas ao tempo de exposição. É fundamental que os pais estejam atentos, principalmente, ao conteúdo que as crianças estão tendo acesso.
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online – Brasil (2018), realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), 86% dos jovens brasileiros entre 9 e 17 anos estão conectados, totalizando 24,3 milhões de usuários da internet.
Os dados da pesquisa também mostram que cerca de 20% dos participantes relataram exposição a conteúdos sensíveis relacionados a alimentação ou sono, enquanto 16% tiveram contato com informações sobre formas de se machucar. Além disso, 14% tiveram acesso a informações sobre modos de cometer suicídio e 11% tiveram experiências relacionadas ao uso de drogas. A pesquisa ainda revelou que 26% dos participantes foram vítimas de ofensas (discriminação ou cyberbullying) e 16% relataram terem acessado imagens ou vídeos de conteúdo sexual. Outros 25% disseram não conseguir controlar o tempo que passam na internet, mesmo tentando reduzir.
Portanto, é vital que os pais estejam muito atentos aos conteúdos que as crianças e adolescentes têm acesso. Encontros com desconhecidos online devem ser evitados e é fundamental que os cuidadores saibam o que a criança está jogando e quais conteúdos ela está recebendo e transmitindo.
Portanto, é necessário que os adultos sejam mais pacientes, presentes, ativos e criativos nas brincadeiras, além de mais responsáveis. Não se pode terceirizar a criação às telas.
Lembre-se: há mais vida fora das telas!