fbpx
 

Lidar com a morte é lidar com a vida

Foi em uma live com a psicanalista de crianças e famílias Mônica Pessanha que ouvimos essa frase. Ao responder a uma pergunta, se devemos ou não falar sobre morte com as crianças, ela respondeu que lidamos o tempo todo com a morte, no dia que se finda, na planta que murcha, no animalzinho que morre. E lidar com esse assunto na literatura infantil é uma maneira de vivenciarmos esse sentimento por meio do outro, ao mesmo tempo que traz assuntos tão importantes como empatia, solidariedade e crescimento.

Pedro e Lua, de Odilon Moraes. Compre na loja da Jujuba.

“Pedro queria dizer pedra, mas tinha a cabeça na lua”. Assim começaessa históriaescrita e ilustrada por Odilon Moraes, conhecido por seu trato delicado om temas considerados difíceis, como luto, melancolia e solidão.
O livro conta a história de um menino apaixonado pelo céu e seus segredos indecifráveis. Um dia, ele descobre em um livro que a Lua que ele observa toda noite era como uma grande pedra flutuante. Logo ele, que também carregava pedra em seu nome. Fascinado com a coincidência, ele vai até um descampado todos os dias para observar aquela grande bolota resplandecente.
Lá, ele percebe pequenas pedrinhas que, no seu entendimento de menino, só podiam ser parentes da Lua que caíram de lá e deviam ter muita saudade de casa. Então, ele resolveempilhá-las uma a uma para ficarem mais perto de sua família.
Até que, de repente, ele tropeça em uma pedra. Ops: era uma pedra diferente, que se mexia e respirava. Pedro olha bem para sua nova descoberta, uma tartaruga de casco verde brilhante, e resolve chamá-la de Lua.Aí começa uma amizadeque vai acompanhá-lo até a vida adulta.O menino vai crescendo rodeado de coisas que parecem uma coisa, mas na verdade são outras –como a Lua no céu e a Lua na terra, que mais pareciam uma pedra –e assim entende valiosas lições sobre si mesmo e sobre o mundo.
Com essa narrativa permeada de metáforas potentes sobre a vida e o ser humano, Odilon aposta na sensibilidade da criança para entender o mundo a partir do poético, e indiretamente ajuda os pais, cuidadores e professores a aproximar as crianças de perguntas sobre temas como saudade e morte.
Utilizando como protagonista um garoto extremamente sensível, o livro desmistifica os também a falsa ideia de que sensibilidade é coisa de menina, e permite a crianças de todas as idades, gêneros e interesses decifrarem seus sentimentos.
“Do ponto de vista da sociedade e dos padrões que ela impõe, eu acho muito importante mostrar esse menino sensível, inclusive dentro de uma coisa maior, que é ohumano. Esse livro mostra que a sensibilidade cabe dentro de qualquer menino, não cabe só a um gênero. A literatura tem essa potência, ao mesmo tempoemque universaliza um sentimento, também o particulariza dentro do personagem”, afirma Odilon.
Mais do que isso, a obra reafirma a capacidade da literatura de elaborar o indecifrável e assim ajudar as crianças a construírem sua própria identidade. Assim, livros como “Pedro e Lua” funcionam como um amigo que pega a criança pela mão e mostram o caminho para a compreensão das coisas e dos sentimentos, ao deixar pequenas pistas pelo caminho –como as pedrinhas de Pedro.
Share Post
Written by
No comments

LEAVE A COMMENT