Antes de serem mães, elas são mulheres com necessidades, sonhos e limites próprios. Cuidar da saúde mental materna é entender que mães merecem ser priorizadas, valorizadas e protegidas como toda pessoa
Quando uma mulher se torna mãe, todos os olhos de cuidado se voltam para o bebê. Em contrapartida, familiares, amigos e a sociedade passam a direcionar expectativas e cobranças para aquela mãe recém-nascida, muitas vezes esquecendo que, antes da maternidade, existe uma pessoa inteira que merece cuidado, respeito, apoio e direito de não desaparecer atrás de uma identidade materna. O resultado dessa invisibilidade é uma sobrecarga imensa, solitária e silenciosa que afeta diretamente a saúde mental e emocional dessas mulheres.
Por isso, olhar para a saúde mental materna é urgente.
Uma das questões menos discutidas quando falamos em maternidade é o peso da carga mental que recai desproporcionalmente sobre as mulheres após a chegada dos filhos, que envolve a preocupação constante com o planejamento, a organização e a antecipação das necessidades familiares, que vão muito além das tarefas práticas e cotidianas.
É como se as mães fossem responsáveis por coordenar a vida emocional e prática de todos ao seu redor, desde questões simples, como lembrar datas importantes e cuidar das refeições, até desafios maiores, como gerenciar emoções e conflitos familiares. Esse trabalho silencioso e contínuo gera exaustão extrema, ansiedade e sensação de isolamento.
Homens precisam exercer a paternidade
Mães frequentemente são vistas como únicas responsáveis pela criação e cuidado com os filhos. Essa visão reforça desigualdades e perpetua a sobrecarga emocional das mulheres. O papel do pai é fundamental não apenas como apoio, mas como alguém que divide de forma justa e equilibrada todas as responsabilidades que envolvem a criação dos filhos – e isso independe do status do relacionamento entre os genitores.
Uma divisão realmente justa implica que os pais assumam ativamente a paternidade e isso envolve desde a rotina diária até as decisões importantes sobre saúde, educação e lazer das crianças. Quando um pai assume seu papel integralmente, permite que a mãe tenha espaço e tempo para cuidar de si mesma, descansar e ser vista como pessoa, e não apenas como cuidadora.
O papel da sociedade no cuidado materno
Cuidar das mães exige uma postura ativa da sociedade inteira. É fundamental que governos e empresas implementem políticas públicas e ações concretas que valorizem as mulheres antes, durante e depois da maternidade.
Governos precisam garantir acesso à saúde mental especializada, ampliar licenças maternidade e paternidade de forma justa, além de investir em treinamento dos profissionais de saúde para reconhecer sinais de sofrimento emocional das mulheres. É necessário também criar espaços de acolhimento para mães solo ou que enfrentam vulnerabilidades econômicas e sociais.
Empresas devem implementar ambientes de trabalho acolhedores, inclusivos e flexíveis para mães, valorizando suas carreiras e oferecendo recursos reais para o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Licenças parentais justas e espaços adaptados à realidade das mães trabalhadoras são fundamentais para garantir que mulheres não sejam penalizadas profissionalmente ao se tornarem mães.
Além disso, a sociedade como um todo precisa rever suas expectativas sobre maternidade. Não exigir perfeição ou abnegação das mães, não romantizar o sofrimento ou sacrifício materno e reconhecer que cuidar dos filhos não é um papel exclusivo da mulher são passos essenciais para diminuir a pressão social que gera sofrimento emocional.
Como apoiar efetivamente a saúde mental das mães
- Ofereça escuta ativa e permita que as mulheres falem sobre suas dificuldades sem julgamentos. Reclamar da maternidade não significa menos amor pelos filhos, pelo contrário, é uma forma de expor a sobrecarga e uma maneira de ter suas necessidades vistas.
- Toda mulher merece tempo e espaço para cuidar de si mesma, independentemente da maternidade. Momentos exclusivos para descanso, lazer ou atividades pessoais não devem ser tratados como luxo, mas como direitos básicos. Ajude a tornar isso possível.
- Família, amigos e comunidades devem atuar de maneira coordenada para garantir que nenhuma mãe precise lidar sozinha com todas as responsabilidades da maternidade.
- Garantia de tratamento psicológico e psiquiátrico acessível e especializado, oferece segurança emocional para mães que precisam de acompanhamento profissional para lidar com questões complexas.