A participação efetiva e emocional dos pais na criação e desenvolvimento de seus filhos é uma necessidade que vem ganhando cada vez mais destaque na sociedade. Mas até que ponto essa ideia se concretiza na realidade?
A literatura científica é clara quanto aos benefícios da paternidade ativa. Crianças que crescem com pais envolvidos têm maior probabilidade de apresentar melhor desempenho acadêmico, maior autoestima e menores índices de problemas comportamentais e emocionais. Um estudo da Universidade de Oxford mostrou que a presença ativa dos pais está associada a uma redução de 19% nas chances de problemas emocionais e comportamentais em crianças.
Isso comprova o que as mulheres já estão dizendo há tempos: pai não é um mero suporte; pai não dá uma mãozinha. Pai (assim como a mãe) precisa assumir as responsabilidades que surgem com a chegada de um filho. O problema é que, na prática, não é bem isso o que acontece.
Recentemente, uma pesquisa encomendada pela Ticket, uma marca de benefícios ao trabalhador, revelou que 93% dos homens entrevistados afirmaram que compartilham igualmente os cuidados dos filhos com a parceira. Porém, apenas 67% das mulheres entrevistadas pela mesma pesquisa afirmaram que a divisão das tarefas é feita de maneira equitativa em suas casas.
E aqui vale lembrar um estudo realizado pela MindMiners, empresa de pesquisa sobre o consumidor, que revelou que 43% dos pais entrevistados não sabiam o significado de “puerpério”, descrevendo esse período como semanas tranquilas em casa – em contraste com 71% das mães, que definiram o pós-parto com palavras como “amor” e “dificuldade”.
Barreiras e desafios
O machismo estrutural ainda presente na sociedade coloca a mulher no centro dos cuidados com os filhos, muitas vezes relegando ao pai um papel secundário. Essa visão tradicional dificulta a paternidade ativa e perpetua a ideia de que o cuidado dos filhos é uma responsabilidade feminina. Essa perspectiva não só sobrecarrega as mulheres como também priva os homens de uma experiência enriquecedora e as crianças de um vínculo fundamental.
Além disso, questões como a falta de políticas de licença parental igualitárias também são obstáculos. No Brasil, a licença-paternidade é de apenas cinco dias, enquanto a licença-maternidade pode chegar a 180 dias. Esse desbalanceamento dificulta a igualdade na divisão das responsabilidades parentais.
Há, no entanto, sinais de mudança. Campanhas de conscientização, programas de paternidade ativa e a maior presença de figuras públicas e celebridades promovendo a importância do envolvimento paterno estão contribuindo para transformar percepções e comportamentos. Iniciativas como o programa “Pai Presente“, desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), incentivam a participação ativa dos pais desde o pré-natal, promovendo ações educativas e de suporte aos novos pais.
A verdade é que a paternidade ativa é uma realidade em construção. Embora ainda existam desafios significativos, o aumento da conscientização, as mudanças culturais e as políticas públicas mais inclusivas estão pavimentando o caminho para uma maior participação dos pais na criação dos filhos. A transformação dessa realidade exige um esforço coletivo para que a paternidade ativa seja amplamente alcançada.