Entenda por que comparar irmãos pode afetar o desenvolvimento emocional das crianças e saiba como promover o respeito e a individualidade de cada um dentro de casa
Conviver com irmãos é uma das primeiras experiências sociais que muitas crianças têm. É no dia a dia com os irmãos que elas aprendem a dividir, negociar, cooperar e até a lidar com frustrações. Mas quando comparações entram em cena, ainda que de forma sutil, essa relação pode se transformar em um campo de competição e ressentimento.
Frases como “seu irmão comia de tudo nessa idade”, “por que você não tira notas como sua irmã?” ou “olha como ele é mais calmo que você” parecem inofensivas, mas podem causar impacto profundo na autoestima das crianças e na maneira como elas enxergam a si mesmas e os outros.
Sabemos que faz parte da natureza humana observar e fazer paralelos, especialmente quando se trata de crianças que crescem sob o mesmo teto. Como pais e cuidadores, muitas vezes, fazemos isso buscando entender comportamentos ou tentando encontrar estratégias que já funcionaram com um filho e podem servir com outro. Porém, é preciso lembrar: cada criança é única, com temperamento, interesses, ritmos e formas de aprender diferentes.
Comparar é uma armadilha porque desconsidera esse universo particular de cada um. Além disso, ao destacar o que um faz “melhor” que o outro, mesmo sem intenção, podemos reforçar a ideia de que o amor e a aceitação dependem de desempenho ou comportamento, e não são incondicionais.
Além disso, as consequências das comparações entre irmãos podem ser mais duradouras do que imaginamos. A criança pode se sentir menos amada ou valorizada do que o irmão, alimentando sentimentos de inveja e competição. E, quando há competição constante, o vínculo fraterno pode enfraquecer, dificultando a construção de uma relação de confiança e apoio
Outro ponto importante dessa seara são os rótulos e o quanto eles são extremamente difíceis de carregar. Ao ser sempre vista como “a bagunceira”, “a tímida” ou “a teimosa”, a criança tende a internalizar esses papéis e se sentir presa a eles. Além disso, quando comparada negativamente, ela pode duvidar da própria capacidade ou se sentir “menos” do que os outros.
Como evitar as comparações?
Nem sempre nos damos conta de que estamos comparando. Por isso, o primeiro passo é observar nossos próprios discursos e atitudes. Ao invés de dizer “sua irmã já fazia isso com 3 anos”, tente algo como: “olha como você está crescendo e aprendendo coisas novas!”. Isso mostra que o importante é o progresso da própria criança e não o ritmo de outra pessoa.
Chamar um filho de “o inteligente” ou “o comportado” pode parecer elogio, mas acaba por colocar o outro em desvantagem. Prefira reforçar atitudes específicas, por exemplo, “achei muito legal como você teve paciência para resolver esse desafio”. Abrace as particularidades de cada filho e mostre que é justamente isso que os torna especiais. Um pode ser mais observador, outro mais ativo; um mais falante, outro mais introspectivo. E está tudo bem.
Tente, sempre que possível, dedicar um tempo exclusivo a cada criança. Isso ajuda a fortalecer o vínculo, promove segurança emocional e reduz a necessidade de “disputar” sua atenção. Aproveite e mostre como irmãos podem se apoiar mutuamente. Incentive brincadeiras em dupla, resoluções de problemas em conjunto e celebre quando um ajuda ou se alegra com a conquista do outro.
Lembre-se de que nem sempre as comparações vêm dos pais. Avós, tios, vizinhos e outras pessoas também podem fazer isso. Nessas situações, é importante conversar com os adultos envolvidos e explicar por que essa atitude pode ser prejudicial. Quando isso acontecer, acolha sua criança e diga que ela não precisa se preocupar em ser como o irmão, mas apenas em ser ela mesma.
A convivência entre irmãos pode ser um laboratório poderoso de aprendizado afetivo e social. Para isso, é preciso que o ambiente familiar favoreça o respeito às diferenças, o amor incondicional e a valorização da individualidade. E evitar comparações é um passo essencial para construir esse espaço seguro.
Afinal, o que desejamos para nossos filhos é que cresçam se reconhecendo como únicos, sentindo-se amados por quem são e capazes de amar e respeitar uns aos outros. Irmãos não precisam ser iguais, mas precisam saber que, em casa, há lugar e afeto para todos.