Nem sempre é fácil ver o brilho nos olhos de uma criança diante de um brinquedo novo que não é dela. Neste Dia das Crianças, saiba como acolher a frustração dos pequenos, valorizar o que realmente importa e transformar esse momento em afeto
O Dia das Crianças está chegando e, com ele, propagandas por todos os lados, vitrines recheadas de brinquedos e aquela expectativa no ar. Apesar de ser uma ótima oportunidade para celebrar a infância, a ode consumista que acomete a data pode trazer algumas dores, especialmente quando a criança se compara com outras e solta a temida pergunta: “Por que eu não ganhei esse presente?”
A frase, simples à primeira vista, carrega um turbilhão de sentimentos: frustração, inveja, tristeza, desejo. E ela pode doer em quem ouve também, principalmente quando os pais gostariam de oferecer o mundo, mas sabem que não é possível ou simplesmente escolhem não seguir o ritmo consumista da data.
Se você já ouviu essa pergunta, respire fundo. Ela não é sinal de que você falhou. Pelo contrário, ela é uma ótima oportunidade de aprendizado para toda a família.
Entendendo o desejo da criança
Crianças pequenas ainda estão aprendendo a lidar com emoções complexas. Elas veem algo que desejam ou percebem que o coleguinha ganhou aquele brinquedo da moda e sentem um impulso imediato de também querer aquilo. Isso é natural. O que não é natural, nem saudável, é ignorar esse sentimento ou repreender a criança com frases como “deixa de ser ingrata” ou “você tem brinquedo demais”.
A comparação é comum na infância. E, convenhamos, até entre adultos é difícil ver alguém ganhando algo que desejamos sem sentir um certo incômodo. Para os pequenos, que ainda estão desenvolvendo empatia, paciência e entendimento do mundo, essa sensação pode vir com força total.
Portanto, a primeira e mais importante atitude é acolher a frustração. Em vez de tentar silenciar ou corrigir a criança de imediato, fale que você entende o que ela está sentindo. Essa escuta ativa não significa que você vai sair correndo para comprar o presente, mas que está validando o que a criança sente. E isso, por si só, já ajuda muito a diminuir a angústia.
Crianças precisam de explicações honestas. Se o motivo for financeiro, diga com delicadeza: “esse brinquedo custa muito caro e, neste momento, não conseguimos comprar, mas vamos comemorar o Dia das Crianças de outras formas”. Porém, se a escolha for por reduzir o consumo, aproveite para conversar sobre isso com empatia: “nem sempre precisamos ter tudo o que vemos. Aqui em casa, tentamos escolher com carinho o que comprar e também valorizar outras coisas, como brincar juntos, passear ou inventar nossas próprias histórias.”
Se não vai ter o brinquedo desejado, o que mais pode acontecer de especial nesse dia? Um piquenique no parque? Um cinema em casa com pipoca? Um presente feito à mão? Uma cartinha surpresa? Um passeio diferente? Inclua a criança na decisão. Dê a ela o poder de escolher entre algumas opções viáveis. Assim, ela sente que tem voz e isso fortalece o vínculo, além de ajudar a ressignificar a data.
Lembre-se de que a gratidão não nasce do dia para a noite. Ela é cultivada com o tempo e com exemplos. Uma boa dica é aproveitar esse momento para conversar sobre o que a criança já tem, seja em objetos, em experiências ou em afeto. Mas atenção: evite usar isso como argumento para deslegitimar o desejo. Em vez de dizer “você já tem brinquedo demais, pare de reclamar”, prefira algo como: “sabia que tem crianças que nem sempre têm brinquedos em casa? O que será que podemos fazer com os que você não usa mais?”. Isso abre espaço para empatia e generosidade, sem culpa.
Cuide também dos seus sentimentos
Muitas vezes, a dor da criança mexe com a nossa própria história. Talvez você também tenha sentido vontade de ter algo que nunca teve. Talvez esteja se esforçando muito para dar o melhor, mas se sinta culpada por não conseguir atender a todas as expectativas.
Seja gentil com você também. Não é o brinquedo mais caro que vai marcar a infância do seu filho e sim a forma como você esteve presente, escutou, acolheu e mostrou que amor não se compra.
Mais do que presentes, as crianças precisam de presença. Uma presença que escuta, que respeita, que brinca, que acolhe a frustração e ensina que o mundo nem sempre vai dar tudo o que se quer, mas que ainda assim pode ser bonito, cheio de possibilidades e descobertas.
Neste Dia das Crianças, que tal transformar a pergunta “por que eu não tenho esse presente?” em um convite para o diálogo, para a conexão e para o aprendizado?
A infância agradece.