O livre brincar é a ponte para as crianças explorarem o mundo e fazerem suas próprias descobertas
Quando uma criança tem tempo e espaço para brincar livremente, ela não apenas se diverte, mas também constrói as bases do seu desenvolvimento físico, sensorial, cognitivo e emocional. O brincar livre é um convite para que a infância seja vivida com plenitude.
Entre agendas apertadas, compromissos e brinquedos prontos é muito fácil esquecermos o valor do brincar espontâneo e sem pressa. Mas é justamente na brincadeira em que a criança cria suas próprias regras, inventa cenários, explora objetos simples e interage com o ambiente ao seu redor, que acontecem descobertas fundamentais, afinal, nesse brincar a criança é protagonista. Não há roteiro, nem adulto dizendo como deve ser feito. Vale tudo: transformar uma caixa de papelão em um castelo, montar cabanas com lençóis, inventar histórias com bonecos, brincar de esconde-esconde ou até ficar olhando formigas no quintal.
Nessas situações, a criança experimenta a autonomia, exercita a imaginação e aprende a lidar com escolhas. É uma vivência que não depende de nada nem ninguém além da própria criança e da liberdade de explorar.
Conexão com os sentidos
Durante o brincar livre, os sentidos estão sempre em ação. Ao tocar diferentes texturas, cheirar flores, ouvir sons da natureza, observar cores ou experimentar movimentos corporais, a criança vai construindo sua percepção sensorial do mundo. Isso tudo é importante para que o cérebro organize as informações que chegam do ambiente. Por exemplo: brincar na areia ajuda a desenvolver a noção de textura e coordenação motora fina, enquanto subir em árvores ou correr pelo quintal estimula o equilíbrio e a noção espacial, da mesma forma que pintar com os dedos ou brincar com massinha reforça a conexão entre tato, visão e coordenação.
Todas essas experiências alimentam o sistema nervoso da criança, preparando-a para desafios futuros, como aprender a ler, a escrever ou resolver problemas mais complexos. Mas não é só isso. Quando a criança brinca livremente, ela não apenas explora os sentidos, mas também exercita habilidades cognitivas. Algumas delas são:
Resolução de problemas: ao inventar um jogo ou construir algo, precisa pensar em soluções criativas.
Memória e atenção: criar regras, organizar personagens e imaginar histórias fortalece essas funções.
Linguagem: mesmo brincando sozinha, a criança fala, inventa diálogos e amplia o vocabulário.
Autocontrole e planejamento: esperar a vez, lidar com frustrações e planejar a próxima etapa do jogo são aprendizados que vêm naturalmente.
A ciência demonstra que brincar é um dos motores do desenvolvimento cognitivo porque ativa diferentes áreas do cérebro e promove conexões neurais importantes para toda a vida.
O papel do adulto nesse processo
É natural que pais e cuidadores queiram organizar o tempo e garantir bons estímulos. Mas, no brincar livre, a função do adulto é principalmente oferecer segurança e oportunidades, e não ditar as regras.
Isso significa que a sua função vai se limitar a garantir ambientes seguros para que a criança explore, a ofertar tempo sem pressa e sem interferência, a disponibilizar materiais simples que possam ser usados de diferentes maneiras e a observar e valorizar a criatividade que surge, sem necessidade de “corrigir” a brincadeira.
Assim, a criança se sente acolhida para experimentar, errar e tentar de novo, ganhando confiança em si mesma.
Dicas para estimular o livre brincar em casa
1. Reserve momentos no dia em que a criança possa brincar sem cronômetro nem interrupções.
2. Disponibilize caixas de papelão, potes plásticos, colheres, tecidos, pedrinhas, folhas e galhos, porque essas coisas podem se transformar em castelos, cabanas ou brinquedos inventados na hora.
3. Quintal, praça, parque ou até a calçada podem ser palco para correr, pular, observar insetos e explorar o mundo real, portanto, saia de casa!
4. Crie pequenas pausas no uso de dispositivos eletrônicos para abrir espaço para a imaginação e para a interação com o ambiente.
5. Entre na brincadeira como parceiro, não como “chefe”. Deixe que a criança conduza e siga o ritmo dela.
6. Dê espaço para atividades diferentes: brincar com água, com terra, com massinha, com tinta ou com música. Quanto mais diversidade, mais sentidos são explorados.
7. Demonstre interesse pelo que a criança cria. Faça perguntas, valorize as descobertas.