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Pequenas cientistas em formação

Saiba como incentivar, desde cedo, o interesse das meninas pelas ciências e abrir caminho para um futuro com mais igualdade e oportunidades

O olhar atento de uma criança diante de uma folha caindo da árvore, a curiosidade em entender por que o céu muda de cor ao entardecer, o desejo de saber o que faz um bolo crescer dentro do forno: tudo isso é ciência em seu estado mais puro. E tudo isso, muitas vezes, é protagonizado por meninas pequenas, que questionam, observam, criam hipóteses e testam ideias o tempo todo. A infância é, por natureza, um laboratório vivo. E cabe a nós, adultos, garantir que as meninas continuem se sentindo parte desse processo de descoberta ao longo da vida.

Apesar de nascerem com a mesma capacidade intelectual e curiosidade que os meninos, nossas garotas ainda enfrentam um longo caminho quando se trata de ocupar espaços nas ciências. Dados do IBGE mostram que, no Brasil, as mulheres são maioria entre os concluintes do ensino superior, mas minoria em cursos e carreiras nas áreas chamadas de STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Essa desigualdade não começa na universidade. Ela é plantada bem antes, muitas vezes, ainda na primeira infância, quando o mundo começa a dizer, mesmo sem palavras diretas, o que é “coisa de menino” e o que é “coisa de menina”.

Brinquedos, roupas, livros e programas infantis reforçam estereótipos de gênero que vão estreitando as possibilidades de atuação das meninas. Enquanto os meninos são estimulados a explorar, inventar, construir, as meninas são levadas a cuidar, embelezar e organizar. Não há nada de errado em brincar de casinha, claro. O problema é quando essa é a única narrativa oferecida. Quando meninas não se veem como cientistas em livros ou desenhos, não têm acesso aos mesmos brinquedos de montar ou robótica, e não recebem o mesmo incentivo para “sujarem as mãos” em experimentos, fica mais difícil para elas se enxergarem como futuras pesquisadoras, engenheiras ou programadoras.

Por isso, incentivar o interesse das meninas pelas ciências é, antes de tudo, um ato de abrir caminhos. E isso começa muito antes da escolha profissional. Começa quando levamos a sério suas perguntas, quando respondemos “vamos descobrir juntas?” em vez de “isso é complicado demais para você”. Começa quando deixamos que explorem livremente o mundo, mesmo que isso signifique bagunça, barulho ou um pouco de sujeira na cozinha.

Viver é científico

A ciência está em toda parte. Está no copo com gelo que “sua”, no arco-íris que aparece depois da chuva, no pão que fermenta, na formiga que segue trilhas invisíveis no chão. Está nos aplicativos que usamos, nas vacinas que nos protegem, na água que chega às torneiras. Mostrar isso às crianças – e, em especial, às meninas – é ajudá-las a perceber que a ciência não é distante, fria ou inacessível. Ela é cotidiana, viva, presente. E que elas podem fazer parte dela.

Outro ponto fundamental é apresentar às meninas exemplos reais de mulheres que contribuíram (e continuam contribuindo) com grandes descobertas científicas. Muitas vezes, as referências que elas recebem são majoritariamente masculinas. Falar de Marie Curie, primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel (e única a ganhar dois em áreas diferentes), pode ser um ótimo começo. Mas há muitas outras: Ada Lovelace, considerada a primeira programadora da história; Katherine Johnson, matemática que ajudou a NASA a levar o homem à Lua; Mayana Zatz, geneticista brasileira referência em pesquisas sobre doenças neuromusculares; Jaqueline Goes de Jesus, biomédica responsável pelo sequenciamento genético do coronavírus no Brasil, em tempo recorde. Quando meninas veem outras mulheres nesses papéis, compreendem que esse lugar também pode ser delas.

Apoiem suas meninas

A escola tem um papel relevante nessa trajetória, mas a família também. Participar de feiras de ciências, visitar museus interativos, estimular a leitura de livros infantis com personagens femininas fortes e curiosas, propor brincadeiras que envolvam montagem, lógica, experimentos simples: tudo isso ajuda a manter acesa a chama da curiosidade e do encantamento pelo conhecimento. Mas, mais do que isso, é essencial criar um ambiente emocionalmente seguro, onde as meninas sintam que podem errar, tentar de novo, fazer perguntas e não saber todas as respostas.

A ciência se constrói na dúvida, no tropeço, na busca incansável por entender melhor o mundo. E as meninas precisam saber que tudo isso faz parte, que não precisam ser perfeitas, só precisam ter espaço para tentar.

Outra estratégia interessante é conectar o universo das meninas à ciência de forma afetiva. Se ela gosta de cuidar de plantas, por exemplo, que tal falar de biologia, botânica ou sustentabilidade? Se gosta de cozinhar, a química dos alimentos pode ser explorada com diversão. Se adora animais, pode-se falar de veterinária, ecologia, zoologia. Mostrar que a ciência conversa com seus interesses pessoais ajuda a ampliar o repertório e a fortalecer a autoestima.

Por fim, é importante lembrar que estimular o interesse das meninas pela ciência não significa forçá-las a seguir esse caminho, mas sim garantir que ele esteja entre as opções possíveis. Que elas cresçam sabendo que podem escolher e que, se optarem por uma carreira científica, serão bem-vindas, valorizadas e reconhecidas. Mais do que formar cientistas, estamos falando de formar pessoas com pensamento crítico, curiosidade ativa, autonomia intelectual e desejo de transformar o mundo.

Quando criamos ambientes que nutrem o interesse das meninas pelas ciências, não só abrimos portas para elas, mas também construímos um futuro mais justo, mais diverso e mais inteligente para todos nós.

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