Com acolhimento, rotina e afeto é possível transformar o medo noturno em um momento de conexão e segurança
Quando é chegada a hora de dormir, as luzes se apagam e o silêncio impera no quarto. Nessa hora, muitos pequenos sentem o coração acelerar. O escuro, que para os adultos pode ser apenas um detalhe da rotina, para as crianças pode parecer assustador. Monstros embaixo da cama, sombras nas paredes, barulhos misteriosos e pesadelos que parecem reais fazem parte do universo infantil – e tudo isso é mais comum do que parece.
Entre os 2 e os 8 anos de idade, é muito natural que os medos surjam e, muitas vezes, se intensifiquem à noite. Isso acontece porque, durante o sono, a criança processa tudo o que viveu ao longo do dia, suas emoções e experiências, mesmo aquelas que não sabe nomear. Além disso, nessa fase de desenvolvimento, a imaginação está a todo vapor. É uma mistura intensa entre fantasia e realidade – e é aí que os monstros costumam ganhar vida.
Então, como os pais e cuidadores podem ajudar nessa fase? A resposta começa com uma palavra tão bonita quanto importante: acolhimento.
Medo não se ignora, se acolhe
Pode ser tentador dizer “não tem nada aí, volta a dormir” ou “isso é bobagem”. Mas, para a criança, o medo é real. Portanto, ao invés de preferir ignorar ou minimizar o sentimento do pequeno, procure ouvi-lo com atenção, validar o que ele sente e oferecer segurança.
Nesses momentos, você pode dizer, por exemplo: “Eu entendo que você está com medo. Às vezes, o escuro parece assustador mesmo, mas eu estou aqui com você.” ou “Você teve um sonho ruim? Quer me contar o que foi?”
Ao conversar com sua criança sobre o medo e os pesadelos, ela aprenderá que pode confiar em você e que é seguro compartilhar seus sentimentos.
Crie uma rotina tranquila para a hora de dormir
Uma rotina previsível ajuda o cérebro da criança a entender que a hora de dormir está chegando e que ela está segura. Banho, pijama confortável, uma luz suave no quarto, leitura de uma história calma ou uma música baixinha podem transformar esse momento em um ritual de carinho e tranquilidade.
Evite atividades muito agitadas antes de dormir, como brincadeiras intensas ou telas (televisão, celular, tablet), pois elas podem deixar o cérebro da criança mais agitado e atrapalhar o sono.
Às vezes, uma simples mudança no quarto pode fazer toda a diferença. Uma luz de tomada com brilho suave pode ajudar a afastar o medo do escuro, assim como deixar a porta do quarto entreaberta. Ter um objeto de segurança, como um bichinho de pelúcia também pode ser um grande aliado.
Se o medo de monstros ou fantasmas surgir, entre no mundo da fantasia e use isso a seu favor. Você pode criar um spray mágico (água com cheirinho) para espantar os monstros ou uma varinha de proteção feita com um graveto e papel colorido para proteção. Brincar com o medo é uma forma poderosa de desarmá-lo.
Pesadelos acontecem. E passam.
Pesadelos são comuns na infância. Eles podem ser provocados por algum acontecimento do dia, um filme mais intenso ou até mesmo alguma preocupação que a criança não sabe explicar. Quando isso acontecer, esteja ao lado dela, ofereça colo, água, carinho. Reforce que foi só um sonho e que agora está tudo bem.
No entanto, se o medo do escuro ou os pesadelos forem muito frequentes, intensos e atrapalhem o sono da criança, vale a pena conversar com um profissional de saúde, como um psicólogo infantil. Às vezes, o medo pode estar ligado a alguma mudança importante na vida da criança (como separação dos pais, entrada na escola ou chegada de um irmão) e o acompanhamento profissional pode ajudar a lidar com essas emoções.
Por fim, é importante lembrar: sentir medo é normal. É uma emoção humana, que tem a função de nos proteger. Na infância, ela aparece com mais intensidade porque o mundo ainda é um lugar novo, cheio de descobertas – e também de incertezas.
O papel do adulto é ser esse porto seguro, uma luz que acalma quando a noite parece grande demais. Com escuta, paciência e muito afeto, é possível atravessar os medos da infância de mãos dadas, até que a criança perceba que já pode caminhar sozinha. E, quem sabe, até descobrir que o escuro pode ser só mais uma parte da aventura de crescer.
Pesadelo ou terror noturno?
O pesadelo é um sonho ruim que acontece, geralmente, na parte final da noite, quando o sono está mais leve. A criança pode sonhar com alguma situação assustadora, como monstros, quedas ou perseguições, e isso a faz acordar assustada e com medo, porém, ela lembra do que sonhou. Depois de um tempo, consegue se acalmar e voltar a dormir.
Já o terror noturno é diferente. Ele costuma acontecer nas primeiras horas de sono, quando a criança está dormindo profundamente. Durante o episódio, ela pode sentar na cama, chorar, gritar, parecer acordada, mas na verdade ainda está dormindo. E o mais importante: ela não vai lembrar do que aconteceu, quando acordar.
Se a sua criança teve um pesadelo, o melhor a fazer é acolhê-la, conversar mostrar que ela está segura. Porém, se ela estiver em um episódio de terror noturno, o melhor é não tentar acordar, apenas garantir que ela não se machuque e espere passar. Quando os episódios de terror noturnos são muito frequentes, intensos ou duram muitos meses, vale buscar ajuda de um neuropediatra.