No mês do livro infantil, conversamos com o autor e ilustrador Renato Moriconi sobre sua trajetória, seu processo criativo e a força das narrativas visuais
Abril é o mês do livro infantil — e não por acaso. No dia 18, comemoramos o Dia Nacional do Livro Infantil, uma data dedicada a celebrar a literatura na infância e tudo o que ela pode despertar: curiosidade, afeto, criatividade e pensamento crítico. Para marcar essa data, conversamos com um dos grandes nomes da literatura infantil contemporânea: o autor e ilustrador Renato Moriconi. Com uma obra visual potente e uma linguagem que atravessa gerações, Moriconi tem livros publicados no Brasil e no exterior, entre eles Dia de lua, publicado pela Jujuba, que venceu a categoria Toddlers (livros para bebês) do 57º BolognaRagazzi Awards, promovido pela Feira do Livro Infantil de Bolonha, em 2024. Nesta entrevista, ele fala sobre a construção de narrativas visuais, o silêncio como recurso expressivo, suas memórias com os livros e o papel da literatura na infância.

“Dia de Lua”, de Renato Moriconi. Compre na loja da Jujuba!
Jujuba – Você se lembra do primeiro livro infantil que te marcou como leitor? E como autor, qual foi o seu primeiro projeto?
Renato Moriconi – Um dos livros que me marcou na infância foi “Pateta faz História, interpretando Cristóvão Colombo.” Meu primeiro livro como autor do livro todo, texto e imagem, foi um chamado “O Sonho que brotou”.
Jujuba – O que te levou a escolher a literatura infantil como espaço de criação?
Renato Moriconi – Acho que foi a admiração por alguns livros infantis que passaram por mim. Existe tanta coisa linda e potente… Queria, e ainda quero, me aproximar e dialogar com trabalhos que me inspiram.
Jujuba – Seus livros muitas vezes brincam com o silêncio e o não dito. Como nasce uma história que quase não tem palavras?
Renato Moriconi – Quando faço um livro, tento escutar o que cada linguagem tem a dizer. Tem obras que pedem mais texto. Outras mais imagens. O silêncio é algo que a obra pede e esse pedido só aparece enquanto estou fazendo a obra.
Jujuba – Como é seu processo de criação das ilustrações? Você começa com o desenho ou com uma ideia de roteiro?
Renato Moriconi – Faço meus livros tentando encontrar as imagens que estão contidas nas palavras e as palavras que estão contidas nas imagens. Assim nasceu o livro “Céumar Marcéu”, por exemplo.
Jujuba – Você costuma testar seus livros com crianças durante o processo? Se sim, já mudou alguma história por causa da interferência delas?
Renato Moriconi – Jamais! Crianças tendem a ser muito sinceras.
Jujuba – Na sua opinião, o que faz um bom livro infantil?
Renato Moriconi – Ser bom.
Jujuba – Muita gente pensa que livro ilustrado é só para crianças pequenas. Como você enxerga o papel dos livros-imagem na formação do leitor – inclusive o leitor adulto?
Renato Moriconi – A imagem é uma forma potente de comunicação. Deixar de prestar atenção nas imagens depois de alfabetizado é como deixar de falar português depois de aprender inglês. O livro-imagem, a meu ver, não tem outro papel senão o de falar as coisas que ele quer falar. Conheço muitos adultos que dizem não compreender esse tipo de obra. Talvez porque tentam achar uma resposta única para o que estão vendo. Tentam encerrar o livro, seu significado, com palavras. Nenhuma palavra dá conta da totalidade de uma imagem. O contrário também é verdade, pois nenhuma imagem dá conta da totalidade de uma palavra.

“Céumar Marcéu”, de Renato Moriconi. Compre na loja da Jujuba.
Jujuba – Qual o papel da imagem na construção de sentido na literatura infantil?
Renato Moriconi – A imagem, tal como a palavra, tem papéis dentro de uma obra. A imagem pode ser auxiliar? Claro que sim. Assim como ela pode ser protagonista e a palavra pode assumir um papel auxiliar. Ser auxiliar não é algo menor, pelo contrário. A alternância no protagonismo da linguagem é fundamental na boa comunicação – poética ou não.
Quando falamos em literatura infantil, estamos falando em comunicação poética, mas, muitas vezes, ela é confundida com comunicação didática – talvez por este tipo de livro estar ligado intimamente ao universo escolar. E nesse universo, a imagem parece, à vista de muitos leitores, assumir um papel na formação. Mas, tal como a palavra, a imagem nos livros de literatura são Arte. Penso ser esse seu único papel.
Jujuba – Como você vê a responsabilidade do autor de livros para a infância? Existe uma ética da infância na literatura?
Renato Moriconi – Certo dia eu me abaixei pra falar de algo muito sério e profundo com meu filho. Ele me pediu pra eu me levantar, falar com ele de pé.
Essa imagem dessa história resume o que é literatura infantil pra mim: uma comunicação de um ser humano adulto, que fala da altura do seu tamanho, sem disfarces, para um ser humano criança, que recebe essa mensagem na altura do seu tamanho.
Jujuba – O que você gostaria que as famílias e as escolas lembrassem nesse 18 de abril, Dia Nacional do Livro Infantil?
Renato Moriconi – Lembrem-se de comprar meus livros.
Jujuba – Que conselho você daria para quem deseja iniciar o hábito da leitura com crianças?
Renato Moriconi – Não sou um estudioso sobre os hábitos de leitura, mas posso compartilhar um pouco da minha experiência como pai. Leio pro meu filho desde que ele nasceu – hoje ele está com 9 e ainda leio pra ele de noite. Quando ele era bem pequeno, procurava ler o que eu gostava. Foi a fase de levar minhas referências pra ele. Agora leio o que ele gosta; é hora de o filho mostrar pro pai suas referências. Tem muita coisa legal que ele me mostrou! Os livros têm sido uma das formas de comunicação, troca e afeto com meu filho. Hoje ele lê bastante. Adquiriu o hábito de ler sozinho. Acho que o prazer ajuda a formar hábito. Testei aqui em casa e parece ter funcionado.

“O mundo é um ovo”, de Renato Moriconi. Compre na loja da Jujuba.
Jujuba – Se você pudesse indicar um livro infantil (que não seja seu!) que todo mundo deveria ler, qual seria?
Renato Moriconi – Leocádio, de Shel Silverstein.
Jujuba – E qual é o livro que escreveu que é seu xodó?
Renato Moriconi – Não posso revelar.

“O mundo é um ovo”, de Renato Moriconi. Compre na loja da Jujuba.
Jujuba – Conta um pouquinho sobre o processo do seu novo livro, “O mundo é um ovo“, que está prestes a ser lançado pela Jujuba.
Renato Moriconi – Me diverti muito fazendo esse livro. Não o mostrei pra nenhuma criança – somente pro meu filho e ele adorou! Acho que todas as crianças vão adorar.
Tá… talvez uma ou outra pode não gostar… Sempre tem alguém que acha pelo em ovo.